Acampamento em Mbawa, Nigeria
Foto: MSF/Scott Hamilton

O aumento da violência na Nigéria, especialmente nos estados Zamfara e Borno, ao norte, levou a uma deterioração da situação humanitária, com milhares de pessoas deslocadas e sem cuidados de saúde.

Médicos Sem Fronteiras (MSF) continuou a ajudar as pessoas afetadas por conflitos e deslocamentos em vários estados, enquanto mantinha vários programas de saúde gerais e especializados.

Deslocamento e violência

Nordeste da Nigéria

No Nordeste da Nigéria – particularmente no estado de Borno – mais de uma década de conflito entre o governo nigeriano e grupos armados não estatais teve um custo elevado. A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que mais de 2,1 milhões de pessoas já foram deslocadas1, e os números continuam a aumentar. Mais de um milhão de pessoas estão totalmente sem ajuda há anos. Em 2020, à medida que a situação se deteriorava, aconteceu uma série brutal de assassinatos em massa e sequestros, contudo, apenas as pessoas que viviam em áreas controladas pelo governo no estado de Borno puderam obter assistência. Nas áreas a que pudemos ter acesso, administramos prontos-socorros de hospitais, centro cirúrgico, maternidades e enfermarias pediátricas, fornecendo serviços como tratamento para malária, tuberculose, HIV e violência sexual, cuidados nutricionais, vacinação e apoio à saúde mental.

Em Maiduguri, administramos um centro de alimentação terapêutica com 72 leitos que trata crianças gravemente desnutridas com complicações médicas. Também administramos um hospital pediátrico com 65 leitos, que é a única instalação deste tipo que oferece assistência médica gratuita em Borno. Nessas instalações, tratamos milhares de crianças por malária, sarampo e desnutrição em 2020. Além disso, nossas equipes forneceram tratamento por malária em campos de deslocados em Ngala e Banki e realizaram profilaxia sazonal de malária em vários locais do estado. Também oferecemos assistência médica especializada em Ngala a pessoas da cidade e dos campos de deslocamento. Em Gwoza e Pulka, cidades controladas pelo exército nigeriano, nossas equipes apoiaram o atendimento de emergência em hospitais públicos. Tanto em Pulka quanto em Rann, realizamos milhares de consultas ambulatoriais, principalmente por diarreia aguda relacionada à falta de água potável.

Noroeste da Nigéria

O aumento da violência nos estados do noroeste expulsou as pessoas de suas casas, forçando-as a perder os meios de subsistência, as fontes de alimentos e o acesso a serviços básicos. Cerca de 100 mil pessoas buscaram segurança no estado de Zamfara, nas cidades de Anka, Zurmi e Shinkafi, após um recrudescimento dos combates em 2018. Nessas cidades, nossas equipes realizaram consultas médicas, forneceram tratamento para malária e internaram milhares de crianças em nossos centros de alimentação terapêutica. Em Zamfara, também continuamos a examinar e tratar o envenenamento por chumbo, resultado de práticas de mineração inseguras que colocam em risco pessoas, especialmente crianças. Em 2020, internamos 1.500 crianças para observação e tratamento.

COVID-19

MSF apoiou várias instalações de isolamento abertas pelo Ministério da Saúde em todo o país, com reforma de instalações, treinamento das equipes médicas em medidas de prevenção e controle de infecções e fornecimento de tratamento aos pacientes. Também reforçamos as medidas de prevenção e controle de infecções e adaptamos os sistemas de triagem e fluxo de pacientes em nossas instalações para garantir a continuidade das atividades.

No estado de Kano, onde a COVID-19 levou ao fechamento de muitas unidades de saúde, realizamos consultas em dois centros gerais de saúde a partir de junho. Quase metade foi por malária.

Saúde da Mulher

No hospital geral de Jahun, no estado de Jigawa, continuamos a oferecer assistência obstétrica e neonatal de emergência abrangente, bem como cirurgia vesicovaginal para fístula obstétrica. Um total de 205 mulheres foram submetidas a esse procedimento em 2020. MSF também deu suporte logístico, técnico e médico a quatro centros que oferecem atendimento básico de emergência obstétrica e neonatal nos arredores de Jahun.

Noma

O Noma é uma doença infecciosa, mas não contagiosa, que afeta particularmente crianças pequenas, com a infecção destruindo o osso e o tecido da metade inferior da face se não for tratada. Aqueles que sobrevivem ficam com severa desfiguração, que só pode ser corrigida com cirurgia reconstrutiva abrangente. Em 2020, embora as restrições da COVID-19 tenham impactado nossas atividades para abordar Noma, ainda fomos capazes de realizar cirurgia em 73 pacientes. Nosso conjunto de cuidados para pacientes com noma inclui fisioterapia e suporte nutricional e apoio à saúde mental para pacientes e famílias. No Noroeste da Nigéria, MSF e o Ministério da Saúde também realizam atividades de divulgação com ênfase na detecção precoce e encaminhamento de pacientes com noma.

Estados de Benue e Rivers

Em 2020, o número de pessoas deslocadas por violentos confrontos entre agricultores e pastores por causa da terra continuou a aumentar. No final de 2020, cerca de 197 mil pessoas haviam fugido de suas casas. Cerca de metade delas vive em acampamentos oficiais na/ao redor da capital do estado de Benue, Makurdi. Em 2020, MSF apoiou as autoridades de saúde administrando vários serviços nos acampamentos, incluindo saúde geral, reprodutiva e mental, suporte nutricional, educação em saúde, tratamento para vítimas de violência sexual e de gênero, além de vacinação. Também auxiliamos na resposta a surtos de cólera e febre amarela e na melhoria da água e do saneamento. Quando a COVID-19 chegou a Benue, fizemos a triagem de pacientes suspeitos e organizamos encaminhamentos para instalações públicas. Em duas clínicas em Port Harcourt, no estado de Rivers, oferecemos assistência médica abrangente às vítimas de violência sexual, incluindo profilaxia para HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis, vacinação contra tétano e hepatite B, contracepção de emergência e apoio psicológico e social.

Febre de Lassa

No estado de Ebonyi, a febre de Lassa – uma doença hemorrágica aguda – é endêmica. Em resposta a um surto, apoiamos os ministérios estaduais e federais de saúde e o Centro Nigeriano de Controle de Doenças, dando suporte técnico, treinando equipes e tratando pacientes em um hospital universitário em Abakaliki. Também atuamos na comunidade com mensagens de conscientização, rastreamento de casos e descontaminação das residências dos pacientes.

Dados referentes a 2020

287.200

Consultas ambulatoriais

64.600

Pessoas internadas no hospital

53.300

Pacientes de malária tratados

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