A segurança tem sido uma das maiores preocupações das equipas da MSF que trabalham na Somália. Outubro 2011.
© Peter Casaer/MSF

Conflitos armados e guerras

No decurso de conflitos, a MSF não toma partido. Providenciamos cuidados médicos com base unicamente nas necessidades das pessoas e trabalhamos arduamente para tentar chegar a quem mais precisa de ajuda.

Se as partes beligerantes virem as organizações de ajuda como parciais, é menos provável conseguirmos acesso às pessoas que precisam de nós e é mais provável que sejamos atacados.

Uma das formas de demonstrar aos envolvidos nos conflitos a nossa independência é através da garantia de que todo o nosso financiamento para o trabalho realizado em zonas de guerra é privado, proveniente de pessoas físicas – não aceitamos doações de governos.

Comboio medicalizado da MSF na Ucrânia. Abril, 2022.
© Maurizio Debanne/MSF

Resposta imediata

Os conflitos, sejam eles guerras internacionais ou disputas internas, podem ter muitas consequências.

O medo da violência ou de perseguição obriga comunidades inteiras a fugir e os que ficam geralmente não têm acesso a cuidados médicos.

Geralmente, os conflitos causam um aumento do número de ferimentos devidos a trauma, mas também trazem problemas às pessoas que precisam de cuidados médicos normais – por exemplo, em caso de complicações durante a gravidez ou de doenças crónicas, como a diabetes.

É comum que o stress psicológico e as doenças mentais também aumentem. Infelizmente, a violência sexual também é frequente durante os conflitos.

Tentamos atender às necessidades das pessoas nesses contextos com equipas altamente experientes – profissionais médicos, de enfermagem e de logística – que prestam cuidados médicos especializados e apoio.

Violência intensa

Durante períodos de violência intensa, as nossas equipas, geralmente, têm de trabalhar com grande flexibilidade. Em 2011, com a violência contínua que afetava as instalações médicas em Misurata, na Líbia, uma equipa da MSF teve de encontrar uma maneira de tirar da cidade, de forma segura e rápida, um grande número de pacientes gravemente feridos.

A equipa fretou uma balsa, removendo os assentos para poder encaixar lonas plásticas e colchões. “A violência causou um influxo de pessoas feridas e, felizmente, conseguimos ir lá e pô-las a bordo”, conta Helmy Mekaoui, médico da MSF que coordenou a operação.

Apesar das dificuldades no mar, a embarcação chegou em segurança à Tunísia no dia seguinte. Vinte ambulâncias aguardavam para levar os 71 pacientes ao hospital.

Annas Alamudi, da equipa de logística da MSF, conta: “Tanto quanto sei, foi uma operação bem-sucedida e fiquei feliz por termos conseguido ajudar. Havia pessoas doentes que precisavam de sair de lá e nós trouxemo-las. Missão cumprida.”

Equipa altamente experiente

O trabalho em zonas de guerra pode ser uma experiência extremamente aterrorizante e perturbadora. Por isso, apenas permitimos que profissionais com treino e experiência participem nesses projetos.

Paul McMaster, cirurgião britânico que já trabalhou diversas vezes com a MSF, ainda considera missões desse tipo desafiadoras.

Depois de regressar de um projeto na Síria, onde tratou feridos num centro cirúrgico montado dentro de uma caverna, disse: “Trabalhei em muitos lugares difíceis com a MSF, zonas de guerra como o Sri Lanka, a Costa do Marfim e a Somália. Mas, enquanto esses países eram perigosos em terra, na Síria o perigo vinha do ar. É um tipo de perigo muito mais opressor, haver um helicóptero a sobrevoar o céu mesmo por cima de nós.”

Segurança

Embora aceitemos que é impossível proteger os nossos profissionais de todos os riscos, fazemos todo o possível para que sejam respeitadas medidas rigorosas de segurança.

Antes de iniciar um novo projeto, e durante a sua realização, avaliamos constantemente os riscos associados às atividades em curso. Cada projeto tem uma regulamentação de segurança específica e detalhada que é colocada em prática, tendo em atenção as nossas estratégias, medidas de segurança e responsabilidades.

Entre estas regulamentações, a MSF exige a rígida prática de interdição da circulação de armas em todas as suas clínicas, veículos e centros de saúde. Para garantir a segurança das nossas equipas e dos pacientes, é essencial que não haja pessoas armadas nos nossos hospitais. Naturalmente, combatentes que precisem de ajuda médica serão tratados, independentemente do lado do confronto em que estejam, mas eles e os colegas deverão deixar as armas do lado de fora. A presença de qualquer pessoa armada aumenta o risco de as nossas instalações serem alvo de violência.

O logótipo da MSF

Aprendemos que, no decurso de ações humanitárias essenciais que são visivelmente imparciais e neutras – e quando esses atributos são percebidos e totalmente entendidos pelas comunidades locais –, o logótipo da MSF estampado numa peça de roupa é, frequentemente, mais eficaz para proteger as nossas equipas do que um colete à prova de bala. Isto é um reflexo do trabalho dos nossos coordenadores de projeto e de emergência que, em zonas de guerra, dedicam parte considerável do seu tempo às negociações com diferentes grupos armados.

Quando uma equipa da MSF é percebida por todos como neutra, imparcial e independente, e quando essas palavras são claramente entendidas e apreciadas, porque se traduzem em ações concretas em campo, é assim que estamos mais a salvo.