Semana exaustiva

Niangara, 14 de abril de 2013.

Em todo esse tempo de Médicos Sem Fronteiras (MSF), não me recordo de ter tido uma semana tão exaustiva como esta última. Foram reuniões e reuniões sem fim, visitas às estruturas de saúde e discussões até tarde da noite.

Na segunda-feira, chegaram o chefão MSF e as autoridades do Ministério da Saúde da República Democrática do Congo (três médicos que desempenham a funções que equivaleriam no Brasil ao secretário da saúde municipal, estadual e federal). Passei o dia em reuniões para discutirmos o que cada um tinha feito até agora e os planos até setembro, quando MSF retirará o apoio de Niangara. A última reunião terminou 23h30.

Na terça, todos já cansados começamos a visita em todos os setores do hospital, depois tivemos a reunião com as autoridades congolesas para escutar suas impressões e o bom é que eles estavam contentes com a qualidade que MSF deu ao hospital.

Aparentemente, em 2009, quando a primeira equipe de MSF chegou à Niangara, eles não podiam enxergar o hospital porque este estava literalmente coberto de mato e lama.

Agora, temos todas as enfermarias limpas, um centro cirúrgico adequado, uma boa área para esterilização, uma área para tratar o lixo e a farmácia é super organizada. A grande questão agora é: como eles farão para manter este nível de qualidade sem MSF? Por isso, a visita das autoridades é super importante para definir a estratégia que eles usarão.

O problema é que, no sistema de saúde na República Democrática do Congo tudo é pago. Depois de MSF, o hospital voltará a cobrar pelos serviços oferecidos.

Para nós, que estamos acostumados com um Sistema de Saúde onde tudo é gratuito, mesmo que demore, é difícil de imaginar como um sistema pode funcionar somente com o dinheiro da população, já sem muitos recursos financeiros. Essa é a triste realidade da República Democrática do Congo.

Vocês devem estar se perguntando “por que MSF vai embora se há tanta necessidade?”. É que por aqui a situação está estável, enquanto em outras regiões do país ainda existem muitos conflitos e uma enorme população em migração sem as mínimas condições de vida. Sem dúvida, essa não é uma decisão fácil.

Enfim, por tudo isso, MSF está tentando responsabilizar o Ministério da Saúde para, pelo menos, garantir o pagamento dos funcionários depois que formos embora.  Apesar de ter sido cansativo, tenho a impressão de que tivemos boas discussões com o Ministério da Saúde e algumas medidas já estão sendo tomadas para garantir um bom funcionamento sem MSF.
Temos uma nova equipe responsável pelo hospital que é bem motivada e acredito que conseguiremos trabalhar em parceria até setembro. Depois disso, todos esperamos que a motivação continue para manter em funcionamento tudo o que MSF deixará, afinal de contas não podemos substituir o papel do Ministério da Saúde dos países onde trabalhamos. Temos que mostrar como fazer, disponibilizar os recursos e depois deixá-los aprender na prática, um desafio mesmo para nós.

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