Finalmente, um enfermeira!

Gogrial, 26 de setembro de 2012

Como o tempo voa! Já estamos no final de setembro.

Nem acredito. Já faz quatro meses que deixei o Brasil, faltam dois para o fim da minha participação neste projeto e nove dias para as minhas férias.

Estou num cansaço que nem consigo explicar. Pela manhã, ainda tenho energia, mas, depois do almoço, conto as horas para o dia acabar e para entrar no meu tukul. Tenho ido almoçar cada vez mais tarde, porque, assim, tenho a impressão de que o dia dura mais já que durante a tarde me arrasto. A boa notícia é que recebemos uma nova enfermeira e ela está me ajudando na enfermaria de desnutridos. Assim não preciso gastar horas e horas lá ainda tendo que correr para ver os pacientes nas outras enfermarias, ambulatórios e pronto-socorro. Faço a visita pela manhã e, à tarde, ela faz a supervisão para ver se eles estão dando o leite e Plumpy´Nut, checa se as medicações estão sendo preparadas corretamente e só me chama quando realmente há algum problema médico. É perfeito, porque tenho mais tempo e a supervisão está muito melhor. Finalmente, sinto que estamos tratando a desnutrição corretamente.

Como tudo na vida tem um lado bom e um ruim, o problema é que nosso time está aumentando e aí claro que as dificuldades aparecem. Temos que dividir quatro latrinas e três chuveiros entre 16 pessoas – e esse número vai aumentar ainda mais – e, é claro, a comida nunca é suficiente. Pelo menos o novo coordenador geral do projeto parece bastante competente e justo e está tentando mediar todos esses contratempos. Assim é a vida; não importa onde estejamos, sempre há pessoas boas e outras que só pensam em si mesmas.

A temporada de chuvas está quase no final. Já está bem mais quente e a chuva, quando cai, vem sempre acompanhada de trovões e raios. Ontem, por volta das 21h00, começou a trovejar e me enfiei em meu tukul. Cinco minutos depois ouvi um estrondo imenso e saí para ver; um raio havia caído a menos de dez metros de meu tukul, bem na casa do nosso vizinho. Na hora pensei na sorte que tive, porque podia estar do lado de fora e ter sido atingida. O filho do nosso vizinho também teve sorte, tendo sido atingido, mas só de raspão. Depois desse incidente, eles começaram a cantar e dançar para o deus da chuva; passaram a noite e o dia cantando. Mataram uma cabra e usaram os órgãos num ritual de purificação para todos aqueles que foram atingidos. Eu não tive tempo de ir lá, mas a nossa enfermeira foi e nos contou todo o ritual. Ela também filmou e foi incrível… Muitíssimo interessante poder assistir ao evento.

Entre altos e baixos, claro que os altos têm mais peso e, mesmo com todas as dificuldades, não me arrependo da escolha que fiz. Só estou cansada e realmente precisando de férias.

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